Com lágrimas de admiração e emocionada por estar no local, onde a história da família começou, a italiana Costanza Samuelli não conteve o entusiasmo por vivenciar as narrativas que ouvia deste pequena. Ela é a filha da bisneta, de Menotti Garibaldi, o primeiro filho do casal de revolucionários.
Descendente direta de Anita, suas feições lembram a imagem que todos conhecem da heroína. Sua mãe, Maria Stefania Ravizza, que ficou em Roma, não cansa de contar para a filha a garra e firmeza da matriarca. "Minha mãe é uma guerreira. Somos uma família de mulheres valentes", conta Costanza, casada e mãe de cinco filhos.

Com ajuda de uma intérprete, a historiadora Elma Sant"Anna, do Instituto Anita Garibaldi, a descendente tirou fotos e fez muitas perguntas. Também passeou de barco para conhecer a região da batalha entre Republicamos e Farroupilhas, no canal da Barra.

A visita foi coordenada pela Fundação Lagunense de Cultura e o Instituto Anita Garibaldi para lembrar a saga de Anita e homenageá-la no dia que completam 164 anos de sua morte, neste 4 de agosto.
Como presente, Costanza deixou retratos do parente Menotti, que serão expostos ao público.

Costanza participará também das cerimônias que serão prestadas em Mostardas, Porto Alegre, Capivari do Sul , Bento Gonçalves e Garibaldi, no Rio Grande do Sul, com o apoio e coordenação do Instituto Anita Garibaldi de Porto Alegre. A descendente está acompanhada pelo seu esposo Fábio Buscaglione e seus cinco filhos Giulio, Giovanni, Alessandro, Francesco Saverio e Maria Gabriella. A linhagem de Anita e Garibaldi está na oitava geração.

"Muito importante sua vinda dela. Uma legítima descendente de Anita", disse o presidente da Fundação de Cultura, Leonardo Pascoal.

Na Itália, Anita também foi lembrada. A vice-prefeita Ivete Scopel visitou o local, onde a heroína faleceu e depositou flores.

Filho mais velho

Domenico Menotti Garibaldi, nasceu em Mostardas, no Rio Grande do Sul, foi um militar e político italiano, tendo sido um dos principais artífices da Unificação da Itália.

Filho mais velho de Giuseppe Garibaldi e Anita Garibaldi, foi o único dos filhos do casal que nasceu no rancho da Família Costa, localidade de São Simão, em Mostardas, na então República Rio-Grandense, pela qual seus pais lutaram. Os demais filhos, Rosa, Ricciotti e Teresa, nasceram no Uruguai nos anos seguintes.

O primeiro nome Domenico foi herdado do avô paterno e o segundo, Menotti, foi inspirado em Ciro Menotti, herói da Unificação Italiana e muito admirado por Giuseppe Garibaldi.

Quando Anita morreu na Itália em 1849, estava grávida do quinto filho. Menotti e Ricciotti desenvolveram carreiras militares na Itália depois de terem se engajado nas lutas chefiadas pelo pai, sendo um dos que integraram a Expedição dos Mil. Menotti recebeu várias condecorações militares e foi também agricultor, maçom e político, sendo eleito deputado por Velletri entre 1876 e 1900.

Casou-se com Italia Bidischini dall'Oglio, com quem teve seis filhos: Anita, Rosita, Gemma, Giuseppina, Giuseppe e novamente Giuseppe, este último recebendo o nome do irmão mais velho falecido com dois anos de idade.

Em 22 de agosto de1903, aos 63 anos, morre de malária e é enterrado no mausoléu da família Garibaldi no município de Aprília.

Anita guerreira

Ana Maria de Jesus Ribeiro, nome legítimo de Anita Garibaldi, nasceu em 30 de agosto de 1821, em Laguna, filha de Bento da Silva e Maria Antônia de Jesus Antunes. Aos 14 anos, por insistência de sua mãe, casou-se com o sapateiro Manuel Duarte de Aguiar, com quem não chegou a ter filhos.

Neste período, o sul do Brasil participou do movimentos a Guerra dos Farrapos. Descontentes com o sistema político imperial vigente, os gaúchos, comandados por Bento Gonçalves, se insurgiram, pois ansiavam por proclamar a República Catarinense – a conhecida República Juliana. Com a conivência dos moradores de Laguna, para lá se dirigiram com seus navios. A intervenção foi comandada por Garibaldi, revolucionário italiano que aportou na baía de Laguna em 22 de julho de 1839.

Aos 18 anos, Anita fugiu com Giuseppe Garibaldi em um navio de nome Rio Pardo, para uma diligência até Cananéia. Sua estréia deu-se durante uma batalha contra Frederico Mariath em prol das causas republicanas. Em um ato de extrema coragem, atravessou em um pequeno barco conduzindo armamento até a área de ação.

Com o fim da República Juliana, Anita e Garibaldi rumam para o sul. Ao chegar em Santa Vitória, ela luta ao lado de Giuseppe, em 1839, na cidade de Lages e participa da Batalha dos Curitibanos, na qual é feita prisioneira; posteriormente Anita consegue fugir. Mesmo grávida de quatro meses, anda sem destino por oito dias em direção ao sul até reencontrar seu marido. Em 16 de setembro de 1840, nasce seu primogênito Domenico Menotti.

No dia 26 de março de 1842, com 21 anos, Anita e Garibaldi contraem núpcias na Igreja de São Bernardino, em Montevidéu. Nos anos que se seguem, para sustentar a família, Garibaldi passa a ensinar Matemática, História e Caligrafia. Anita ajuda no orçamento costurando para fora e aproveita a vida pacata para aprender a ler e a escrever. Teve mais três filhos: Rosita, Teresita e Riccioti. Uma fatalidade traz tristeza à família – Rosita, com dois anos e meio, morre de difteria.

Neste mesmo período a independência do Uruguai se vê ameaçada e o então presidente Fructuoso Rivera chama Garibaldi para comandar o conjunto de todos os corpos militares de seu Exército. Garibaldi é então designado General, quando fundou a legião italiana e conseguiu muitos sucessos nas várias lutas que se sucederam.

Após a morte de Rosita, Anita decidiu entrar para a Legião com o objetivo de trabalhar como enfermeira. Em 1847 é obrigada a empreender fuga com seus filhos passando pela Itália, Gênova e Nice, sempre recebida como heroína.
Em junho de 1849, Giuseppe Garibaldi encontrava-se na liderança pela defesa da República de Roma versus os franceses. A França vence e Roma se entrega, Garibaldi não admite a derrota e vai para Veneza. Anita, mesmo grávida de seis meses, veste-se de homem e acompanha seu marido em sua última empreitada. Devido às cavalgadas noturnas, uma alimentação inadequada e noites ao ar livre, Anita adoece, porém não esmorece, só parando quando de sua morte e da criança que esperava, a 4 de agosto de 1849.