Toda criança tem direito de ser respeitada e amada, ter acesso, no mínimo, à educação de qualidade. Mas, infelizmente, isso nem sempre acontece, muitas vezes, o próprio lar é palco da violência cometida todos dias contra crianças. Negligência no ambiente familiar é muito mais comum do que se imagina, é a falta de cuidados dos pais ou responsáveis por uma criança em atender suas necessidades básicas, podendo resultar em danos físicos, emocionais, psicológicos ou até a morte da criança.
"A negligência resulta em consequências físicas e psicológicas como crescimento deficiente, problemas de saúde, fadiga constante, problema na conduta, privação cultural, sentimento de rejeição e menos valor, desnutrição e depressão", disse a psicóloga Thais Bento, do programa Sentinela. O Programa Sentinela, desenvolvido por uma parceria entre o Governo Federal e a prefeitura de Laguna, vem atuando desde 2001 no acompanhamento de casos que envolvem algum tipo de negligência contra crianças e adolescentes (de 0 a 18 anos), como violência, maus tratos, abuso e exploração sexual. Ao todo o programa oferece assistência à 192 famílias, com a realização de trabalhos de conscientização e acompanhamento psico-social dessas pessoas.
"Nosso acompanhamento é feito desde o atendimento psicológico até o pedagógico, quando vamos até a escola onde a crianças ou adolescente estuda, para podermos ter uma dimensão maior do universo que ela vive e como se comporta", explica Thais. Todos os meses são realizadas palestras com grupos de pais sobre assuntos como negligência, formas de educar sem bater, estatuto da criança e do adolescente, entre outros. Para os jovens, as palestras abordam temas como drogas, sexo na adolescência, educação e muito mais. Para os pequenos com idade entre 3 a 7 anos existe o projeto contação de histórias. A equipe do programa Sentinela é composta por duas assistentes sociais Giovana Neto Moraes e Cristina Puluceno de Oliveira, uma psicóloga, Thais Baião Bento e uma pedagoga, Edna Cristina Cardoso. O horário de atendimento é das 8 às 18 h, no 1° andar do Centro Administrativo Tordesilhas, dentro do espaço do Conselho Tutelar.
Obrigações dos pais ou responsáveis:
De acordo com a psicóloga Thais, são deveres dos pais: agasalhar, dar banho, cortar unhas, limpar as orelhas, cortar o cabelo, escovar os dentes, levar no médico, no dentista, não deixar a crianças sozinha em casa, se certificar de que a criança está comparecendo às aulas, ajudar com as tarefas e trabalhos escolares, comparecer aos chamados e reuniões da escola, sustentar alimentando com feijão, frutas, verduras, leite, ovos; controlar horários e amizades, limpar a casa e lavar as roupas, comparecer nos atendimentos com o Sentinela, dar exemplo quanto a não beber, não fumar e respeitar os outros, escutar, conversar, compreender, ter paciência, abraçar, beijar, fazer carinho e declarar seu amor pela criança ou adolescente.
Estatísticas
De acordo com estudos realizados por órgãos do governo federal e organizações não-governamentais, casos de violência doméstica contra crianças são tão frequentes quanto nos Estados Unidos, país que já possui estatísticas comprovadas quanto ao número de casos desse tipo. Aliás, as estatísticas americanas mostram que, anualmente, são registrados cerca de 1,5 milhão de casos de maus-tratos contra crianças e adolescentes, na família. A morte por maus-tratos praticados pelos próprios pais, nos Estados Unidos, acontece, em mais de duas mil crianças por ano. Informações da Associação Brasileira de Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia), mostram que a maioria das crianças maltratadas são menores de cinco anos, o que caracteriza como um ato de covardia, pois nessa idade a criança não tem como se defender.
Tipos de Negligência
Médica: quando as necessidades de saúde de uma criança não estão sendo preenchidas; vacinas em atraso, doenças crônicas não tratadas, extravio constante da carteira de saúde;
Dentária: quando a criança não costuma escovar os dentes em casa e ir ao dentista;
Alimentar: quando a criança vai para escola sem tomar café, almoça todos os dias na casa da sopa, pedi comida nas casas, come pouco e sempre a mesma coisa;
Educacional: quando os pais não acompanham a freqüência e desempenho escolar do filho, não comparecem as reuniões ou chamados da escola;
Higiênica: quando a criança vivencia precárias condições de higiene;
De vestuário: quando a criança anda descalço, com roupas rasgadas, mal agasalhada no inverno, sempre com a mesma roupa, vai para escola sem uniforme;
De supervisão e limites: quando a criança é deixada sozinha, sujeita a riscos; sai e chega a hora que quer, com quem quiser, onde quiser;
Física:
*Severa – alimentos nunca são providenciados; não há roupas limpas; o lixo se espalha pelo chão; há fezes e urina pela casa; não existe rotina para as crianças (dormem quando querem, fazem o que querem, vão onde querem); são deixadas sós por muitos dias;
*Moderada – existem alimentos mas a alimentação não é balanceada; casa suja mas sem exageros; as crianças são deixadas sós por algumas horas; os pais ignoram um resfriado crônico mas levam para o hospital em emergências.
Fonte: ASCOM/PML