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O tesouro de um artista
Catarinense Willy Zumblick completa 94 anos de idade

JACQUELINE IENSEN

Willy Alfredo Zumblick, o Seu Willy, completa hoje 94 anos de vida. Pintor do cotidiano, imprimiu em estimadas três mil telas a paixão pela vida. Em seus quadros, figuras com olhar que consegue ser, ao mesmo tempo, profundo, brilhante e divertido. Não raro um cachorro, um gato, um macaco espreitam os personagens que dão a impressão de estar sempre conversando nas telas barulhentas de Zumblick.

Com a saúde abalada, Zumblick permanece internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital de Tubarão. Em 2005, três amigos do Seu Willy, o escritor Volnei Martins Bez, o professor Valmiré Rocha dos Santos e fotógrafo Carlos Rocha decidiram reunir as obras no livro A Arte de Zumblick – uma bem-cuidada edição com 154 páginas contendo imagens e textos de quem teve o privilégio de conviver com o artista. O trabalho foi tão bem-recebido que os três decidiram elaborar o catálogo raissoné de Zumblick, uma espécie de inventário da pintura do artista. O projeto já foi aprovado no Ministério da Cultura e está em fase de captação de recursos.

– Teremos o catálogo em duas versões. Uma impressa que será distribuída gratuitamente nas escolas e bibliotecas e a outra eletrônica com DVD e website. Assim teremos o catálogo sempre atualizado pelo site – conta o fotógrafo Carlos Rocha. Amigo e admirador do Seu Willy, o professor Valmiré Rocha dos Santos muda até o tom da voz quando fala do pintor.

– A criação do catálogo é quase uma obrigação nossa pois encontramos um verdadeiro tesouro na elaboração do livro que nos obriga a prosseguir. Não é justo que um arquivo tão valioso fique restrito a algumas pessoas. Disponibilizar a pesquisa em meio eletrônico é fundamental para que os estudantes e outros interessados possam conhecer e consultar as obras de Zumblick – observa o professor Valmiré.

Nostálgico, Volnei Martins Bez diz que o trabalho não é apenas pela pintura de Zumblick.

– Mas pela pessoa correta, educada, sempre atencioso, um cidadão exemplar – resume o escritor.

Volnei – assim como Valmiré – nasceu em Tubarão e teve a oportunidade de crescer bem próximo do artista. Homem paciente e de boa conversa, Seu Willy transformou a Relojoaria e Ótica Zumblick, na Rua da Igreja, no Centro de Tubarão, numa espécie de ponto de encontro de políticos e intelectuais da época. Seu jeito afetuoso conquistava adultos e crianças que, vez por outra, davam um jeitinho de puxar uma conversa com o artista de voz doce que se traduzia na telas em olhares apaixonados e cheios de vida.

Nascido em Lauro Müller, também o escritor Flávio José Cardozo foi seduzido pelo artista. Naqueles tempos, o menino Flávio saía da pequena Guatá em busca de conhecimento na então "imensa cidade de Tubarão". Primeiro foi fisgado pela sonoridade do nome – Zumblick! – , depois uma assinatura no canto de uma tela descortinou a arte na vida e encantou para sempre o garoto que se converteu em consagrado escritor. No texto em que assina no livro A Arte de Zumblick, Flávio José Cardozo escreve "num rápido censo que eu fizer dos mitos da minha infância, Zumblick é dos que saltam à frente, multicolorido e estridente".

Saiba mais
A pintura de Zumblick tem fases muito bem definidas mas alicerçadas num estilo livre, sem preocupação com escolas ou causas. Sua alma de artista defendia o traço, a cor, o movimento e a espontaneidade das figuras que agitam suas telas.
Em 1928, Zumblick treinava a mão com desenhos de frutas e paisagens às margens do Rio Tubarão com impressionante riqueza de detalhes. Logo nos primeiros trabalhos, imprimia o que veio a se consolidar como uma marca da sua pintura: a revelação do estado de espírito de seus personagens pelo jogo de luz e sombra que ora ilumina e alegra o olhar, ora o entristece.
O quadro Vovó das Bonecas, de 1990, é um exemplo da galhardia do pintor. Mas como talento é sempre ilimitado, Seu Willy não se contentou apenas em expressar suas emoções por meio de tintas e pincéis. Ele também moldou em aço e concreto belíssimas esculturas como, por exemplo, Ternura de Mãe, obra de 1984, que está na Praça Sete de Setembro, em Tubarão. A Festa do Divino, as carrancas, os monumentos que estão espalhados pelo Estado comprovam a versatilidade do artista de longa barba branca e mãos habilidosas, que não deixou passar em branco nenhum momento da sua vida.

Fonte: Diário Catarinense, variedades, 26/09/2007.